Dedé admite: estratégia de José Aldo para McGregor "não era bem aquela"

Treinador analisa derrota surpreendente do ex-campeão, diz que seguirá como head coach por mais dois anos, e não descarta subida de peso para buscar 



Uma semana não foi o suficiente para que a ficha caísse na Nova União que o campeão dos pesos-penas do UFC não residia mais na academia. O choque pelo nocaute em apenas 13 segundos imposto por Conor McGregor a José Aldo, dono do cinturão por seis anos (incluindo seu reinado no finado WEC) e invicto por 10, deixou o treinador do brasileiro, Dedé Pederneiras, com um sentimento de que seu pupilo não teve a chance de mostrar tudo o que foi trabalhado meses a fio para a luta valendo o cinturão unificado da categoria. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, o técnico admitiu que o plano de jogo traçado pela equipe não era atacar com tudo tão rápido como Aldo fez, mas reconheceu o mérito do adversário de simplesmente ser mais veloz que o ex-campeão para responder seu ataque.
- Na verdade, a estratégia não era muito aquela. Acho que o Aldo achou que tinha o tempo de entrar a mão ali e acabar a luta. Ele viu o espaço e jogou. Infelizmente, o outro também teve a reação de jogar, e o Aldo foi de encontro ao golpe dele, assim como ele foi de encontro ao golpe do Aldo. Os dois tirando a cabeça para o lado contrário, encontraram o mesmo golpe que o outro jogou. Os dois jogaram cruzados, só que o do cara chegou primeiro. Se o do Aldo chega primeiro, o resultado teria sido outro - disse Dedé, em seu escritório na academia Upper, sede da Nova União na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Dedé Pederneiras UFC MMA (Foto: Raphael Marinho)Para Dedé Pederneiras, movimento de Aldo de encontro ao golpe de McGregor foi ponto crucial (Foto: Raphael Marinho)
O treinador, multicampeão no UFC e Bellator com nomes como José Aldo, Renan Barão e Dudu Dantas, entendeu que o rápido ataque de seu pupilo ao desafiante foi fruto da grande confiança que ele tinha na vitória e na preparação feita ao longo de meses. Não deu certo, e Dedé agora se vê com a difícil missão de apontar os erros de um lutador com currículo praticamente impecável, com apenas duas derrotas em 27 lutas na carreira.
- Você dizer para um cara com a habilidade que o Aldo tem, "Você errou ali", é difícil. Acho que o momento, o timing de um jogar e o outro jogar, e o cara chegar primeiro e o dele depois, foi o que decidiu a luta. Se o dele chega primeiro, a luta teria sido ao contrário, mesmo porque o do Aldo teria pego no queixo dele. Pegou no supercílio, e se você pega um cara lançando um golpe assim, e ele apaga, a tendência é que o golpe suba. Se ele não sobe e continua na mesma reta, ia pegar no meio do rosto. "No queixo" é até dar um chute muito grande, mas que seria bem próximo, seria. Se o Aldo não tivesse tomado o soco antes de encontrar o soco dele; se fosse junto ou um pouco depois, provavelmente o McGregor estaria na lona também, ou os dois cairiam para o lado, pois os dois cruzaram basicamente ao mesmo tempo. Por milésimos de segundos, um chegou antes.
Dedé também mudou um pouco o tom em relação a Conor McGregor. Ele explicou o que quis dizer ao afirmar que o golpe do irlandês "aconteceu uma vez e nunca mais".
- Ele realmente foi feliz. Digamos que o golpe não foi de sorte, foi um golpe programado, mas o encaixe ter sido no queixo por conta do encontro do alvo ao soco, acho que foi uma sorte dele. A gente treinou, viu várias vezes ele fazer isso. Toda vez que o adversário joga a mão direita, ele joga o golpe por cima. (...) Um golpe daquele entrar a 13s de luta, daquele jeito, é uma vez na vida e nunca mais. Não estou dizendo que o golpe não possa entrar, um cruzado daquele no queixo. Pode entrar, mas igual, numa situação de pouquíssimo tempo, esse golpe entrar de encontro e acabar a luta, é uma vez na vida e outra na morte. Não o golpe em si, o cruzado no queixo, mas em início de luta, o cara cruzar e o outro cruzar junto, o dele pegar antes e o cara cair, nunca mais vai acontecer.
O treinador ainda admitiu que o momento é o pior da Nova União nos últimos anos, revelou que deve seguir como head coach nos próximos dois anos, reclamou da falta de critério do UFC para determinar revanches imediatas e não descartou que José Aldo suba ao peso-leve para buscar um novo confronto com McGregor. Confira abaixo, na íntegra, a entrevista de Dedé Pederneiras:
José Aldo Connor Mcgregor UFC 194 (Foto: Getty Images)Conor McGregor acertou José Aldo no queixo, e o campeão caiu em 13s no UFC 194 (Foto: Getty Images)
COMBATE.COM: Com uma semana passada, já deu para absorver o impacto dessa luta?

Dedé Pederneiras: É difícil falar que deu para absorver. Foi uma coisa que ninguém esperava. Acho que o Aldo estava numa das melhores formas físicas dele para lutar, e aconteceu o que ninguém esperava. Mas, faz parte, isso é luta, é esporte, e perder e ganhar está dentro do contexto.
Que avaliação dá para se fazer em 13 segundos?
Nenhuma. A avaliação é que Deus quis daquele jeito. O McGregor foi feliz de acertar o soco no queixo. Não que ele não tenha o mérito de ter feito; acho que falei algumas coisas que o pessoal entendeu errado. Acho que a felicidade dele foi ter encaixado tão bem o golpe; acho que se o golpe pega, como o do Aldo pegou, na cabeça, e o do Aldo pega no queixo, hoje quem estaria rindo seríamos nós. Os dois jogaram os golpes; o do McGregor, infelizmente, além de ter encaixado no queixo, chegou primeiro. Quando o Aldo acertou o supercílio dele, já estava apagado, porque já tinha tomado o soco. O soco do McGregor foi encaixado? Foi. Mas acho que o encontro do corpo do Aldo na direção do soco dele foi o pior de tudo. Se ele tivesse pego o Aldo parado, talvez seria um impacto que ele ficasse grogue, mas não um nocaute. O movimento que o Aldo fez, obrigatoriamente ele tinha que jogar o rosto de encontro para aquele lado que veio o soco, até para encaixar melhor o golpe dele. Tanto é que encaixou o golpe dele e o do cara, mas o do Aldo já encaixou com ele apagado, com muito menos pressão, e mesmo assim abriu o supercílio e ele andou para trás, ainda ficou com um "galo". Coisa de Deus, Ele quis assim, a gente só tem que respeitar e esperar a próxima.
Você pode comentar como era a estratégia? Se era botar pressão desde o começo daquele jeito, ou se foi um lampejo que o Aldo viu ali?
Na verdade, a estratégia não era muito aquela. Acho que o Aldo achou que tinha o tempo de entrar a mão ali e acabar a luta. Ele viu o espaço e jogou. Infelizmente, o outro também teve a reação de jogar, e o Aldo foi de encontro ao golpe dele, assim como ele foi de encontro ao golpe do Aldo. Os dois tirando a cabeça para o lado contrário, encontraram o mesmo golpe que o outro jogou. Os dois jogaram cruzados, só que o do cara chegou primeiro. Se o do Aldo chega primeiro, o resultado teria sido outro.
Acha que teve algum tipo de ansiedade do Aldo?

Não digo ansiedade, talvez um excesso de confiança, porque ele estava muito bem. Ele estava tão confiante na vitória, que (pensou), "Vou jogar e vai pegar". A decisão ali é de milésimos de segundo. Ou você ataca, ou você sai. Ele decidiu atacar, e o outro jogou de encontro até para poder se defender. Foi um golpe de ataque, numa de parar o movimento de ataque nele. Como é que você diz para um cara supercampeão como o Aldo que ele tomou uma decisão errada? Se você analisar a luta, quando o Aldo joga o primeiro direto, um direto falso, e o McGregor solta o golpe dele, a direção que está a cabeça do Aldo, o golpe não pegaria no queixo, pegaria no tampo da cabeça. Só que o Aldo levanta para se projetar, o queixo levanta, e (o golpe) pega no queixo. A precisão do McGregor foi de acertar a bola, digamos, a cabeça. E o Aldo, no movimento dele, o McGregor não tem como dizer que ele calculou acertar naquele sentido certinho. Ele vai até dizer, mas é uma coisa bem difícil de falar, até porque se o Aldo continua entrando daquele jeito e joga, não tinha pego. Mas, ele realmente foi feliz. Digamos que o golpe não foi de sorte, foi um golpe programado, mas o encaixe ter sido no queixo por conta do encontro do alvo ao soco, acho que foi uma sorte dele.
 A decisão ali é de milésimos de segundo. Ou você ataca, ou você sai. Ele decidiu atacar, e o outro jogou de encontro até para poder se defender. Foi um golpe de ataque, numa de parar o movimento de ataque nele. Como é que você diz para um cara supercampeão como o Aldo que ele tomou uma decisão errada?
sobre o ataque de Aldo no início
 Esse tipo de golpe, vocês esperavam dele? Ele já tinha nocauteado outros com golpe parecido...
Sim, sim, a gente treinou, viu várias vezes ele fazer isso. Vimos várias vezes ele fazer isso.
O golpe em si não chega a ser uma surpresa.
Não, porque vimos várias vezes. Toda vez que o adversário joga a mão direita, ele joga o golpe por cima.
Talvez tenha sido a preparação do golpe que não foi apropriada...

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